Sem calendário de disputas, como os atletas mantêm a motivação?

O ano muda, novos projetos ganham força e o corpo renovado encontra combustível para encarar mais uma jornada. Quando 2019 foi embora e 2020 chegou, o atleta Vinicius Dower já sabia os horizontes que queria desbravar e, como um velejador na maré de sonhos, traçou a rota e seguiu o mapa veementemente – até o coronavírus chegar a Tubarão. “O momento me deixa triste sim. Meu último ano de Joguinhos Abertos e Brasileiro Sub-20. Estava dando o meu melhor para tudo dar certo”, conta o saltador, que ao longo deste isolamento social sente o psicológico afetado.

 

E ele não está sozinho. No cenário esportivo, outros tubaronenses sentem os reflexos por ficar longe das pistas, quadras, piscinas ou tatames. A psicóloga clínica e do esporte, Gisele Santinoni, explica que o período de pandemia causa o estresse de não conseguir cumprir o que foi planejado. “Para quem é atleta, o treino não é a finalidade, o objetivo é a competição, é ganhar. O treinamento é uma parte para atingir o objetivo. Quando ele se vê sem a disputa, parece não fazer sentido continuar se dedicando”, esclarece Gisele.

 

Ela faz uma analogia ao processo de luto frente à morte. É algo que está fora do controle, “está além de você e, por isso, acaba gerando ansiedade, estresse, tristeza, falta de determinação ou motivação”, completa. Justamente como Vinícius se sentiu no início da pandemia da Covid-19. Foi só depois de refletir e resgatar lembranças antigas que ele conseguiu manter 100% a atividade física. “No verão eu treinei sozinho e teve um dia que quase não fui treinar. Quando ouvi minha tia falando o quanto se orgulhava de me ver tão focado diariamente, fiquei feliz e aquelas palavras me deram força. Entendi o valor de não desapontar nem ela, nem a mim mesmo”, descreve.

 

O atleta também revela duas dicas para quem está mantendo o alto rendimento em casa. A primeira é fazer um exame de consciência de como foi o comprometimento diário.“Todos os dias, sem exceção, quando me deito, eu penso em cada detalhe do dia. Como eu treinei, o que poderia ter melhorado, o que deixei de fazer ou errei. Aí observo o que posso evoluir a partir disso e, no dia seguinte, busco aperfeiçoar da melhor forma que eu posso. Funciona para mim”, relata. Na segunda dica, ele descreve a sensação de reconhecimento através das redes sociais e incentiva os demais competidores da Cidade Azul, a divulgar seu talento no meio online. “Muitas pessoas se inspiram no que fazemos. Podemos impactar tanta gente”, finaliza.